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A nova lei de saneamento – 14.026/2020

Séries da Soluta

A nova lei de saneamento - 14.026/2020

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Durante as últimas semanas publicamos alguns posts em nossas redes sociais, sobre um assunto que deu o que falar em 2020: o novo marco legal do saneamento. Trata-se de uma atualização da política nacional, a qual trouxe muitas mudanças, que foram debatidas exaustivamente, principalmente no período de aprovação entre Câmara e Senado, o que aconteceu durante plena pandemia. Neste post de hoje, traremos o resumo dos assuntos abordados nesta série, com o objetivo de trazer luz a um tema importante e atual. Esperamos que aproveitem a leitura!

Saneamento básico no Brasil: o que sabemos desta história?

É difícil pensar na vida sem água corrente na torneira ou o esgoto tratado, não é mesmo? Mas, quando essa preocupação começou?

As primeiras obras relacionadas ao saneamento por aqui aconteceram no Rio de Janeiro, em 1561, quando um poço foi perfurado para o abastecimento da cidade. Foi lá também que, uns anos depois, construíram os famosos Arcos da Lapa, um aqueduto que viria se tornar um de seus principais cartões postais.

Ao longo dos anos, a população brasileira cresceu muito, o que aumentou a necessidade, principalmente, por acesso à água. Desde 1850, começaram a ser instaladas estações de tratamento em algumas cidades. Nota-se que outros eixos do saneamento, como esgotamento sanitário e tratamento de resíduos permaneceram durante muitos anos sem atenção.

Inicialmente realizados por empresas estrangeiras, esses serviços foram estatizados pela Constituição de 1930, que responsabilizou os municípios pelo saneamento e abastecimento de água. Ao longo das décadas surgiram outras ações, bem como as autarquias e os mecanismos específicos de financiamento, além do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). Mas, somente em 2007 foi aprovada a Lei Nacional do Saneamento Básico (Nº 11.445), que visou trazer maior esclarecimento sobre a gestão das diretrizes do saneamento e a integração entre os papéis dos governos federal, estadual e municipal.

Em paralelo à lei, dois órgãos foram também criados para fiscalizar e monitorar a execução dos serviços: a ANA (Agência Nacional de Águas) e o (SNIS) Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento.

O Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal, também destinou em torno de R$ 70 bilhões em obras relativas ao saneamento. Adicionalmente, em 2016 foi sancionada a Lei nº 13.329, que instituiu o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico.

Arcos da Lapa, Rio de Janeiro.

Afinal, o que é saneamento?

É comum que o saneamento básico seja reduzido a: ter acesso a água e a um esgoto tratado. Mas, estes são apenas alguns elementos que compõem um serviço bem mais complexo.

“Sanear” vem do latim e significa tornar saudável, higienizar e limpar. Saneamento é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde, melhorar a qualidade de vida da população e a produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica. O saneamento também pode ser visto como a ciência que trabalha a proteção do ser humano e do meio ambiente no qual ele está inserido.

No Brasil, o Saneamento Básico no Brasil está institucionalizado no âmbito do pacto federativo, sendo um direito assegurado pela Constituição. É norteado pela Lei nº 11.445/2007. O saneamento básico é  definido como o conjunto dos serviços, infraestrutura e Instalações operacionais de:

(i) abastecimento de água;

(ii) esgotamento sanitário;

(iii) manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana;

(iv) drenagem urbana e manejos de águas pluviais.

A integralidade destes serviços é um dos princípios estruturantes da política e da gestão integrada do saneamento básico. A Lei nº 12.305/2010 dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e proporciona avanços para o setor.

É através do sistema de abastecimento que a água chega à sua casa, passando por processos de tratamento que a torna segura para ser utilizada. Ela é captada em mananciais, passa por processos físicos e químicos e, então, é distribuída para as residências, indústrias e estabelecimentos comerciais.

A coleta e o tratamento de esgoto de imóveis e indústrias são essenciais, não só para mantê-lo longe do contato com a população, como também para que ele não polua os rios, lagos e oceanos, prejudicando os ecossistemas aquáticos e terrestres. 

A drenagem e o transporte da água da chuva são realizados por meio das galerias pluviais, que transportam essa água até os mananciais, evitando, assim, alagamentos nas áreas urbanas.

Já a coleta de resíduos sólidos tem um papel importante na manutenção das cidades, pois recolhe o lixo das residências e estabelecimentos comerciais. Os resíduos sólidos podem ser levados para reciclagem, aterros sanitários e, até mesmo, usados para produzir energia elétrica.

Itens do saneamento básico.

Os números do saneamento no Brasil

O acesso ao saneamento básico no Brasil ainda não é uma realidade para todos. Embora seja uma necessidade básica da população, ainda há uma diferença regional muito grande em relação ao acesso a esses serviços no país.

Segundo dados do SNIS, o Brasil está longe da universalização do abastecimento de água – 83,6% da população tem acesso a água. Ademais, entre as regiões brasileiras temos os seguintes percentuais: Norte, 57,1% da população é abastecida com água tratada; Nordeste, 74,2%; Sul, 90,2%; Centro-oeste, 89,0%; e Sudeste, 91,0%.

Outro problema do abastecimento brasileiro é o desperdício, pois 38,5% de toda água distribuída não é contabilizada por causa de vazamentos, ligações irregulares ou falhas de medições. 

A situação é ainda mais precária em relação ao esgotamento sanitário, 53,2% da população brasileira tem acesso a rede. O SNIS mostra que apenas 10,5% da população da região Norte tem acesso a esgotamento; Nordeste, 28%; Sul, 45,2%; Centro-oeste, 52,9%; e Sudeste, 79,2%. De todo esgoto coletado, apenas 46,3% recebe tratamento adequado. 

Cerca de 92,1% da população é atendida com coleta de lixo domiciliar e apenas 38,1% dos municípios dispõem de coleta seletiva. 

Quanto ao sistema de drenagem, em torno de 54,8% dos municípios possuem sistema exclusivo de drenagem, porém 24,6% possuem sistema unitário (misto com esgotamento sanitário). 

Em resumo, o quadro mostra que ainda falta muito a ser feito para melhorar o cenário do saneamento básico no Brasil

Painel do Saneamento Básico no Brasil.

Por que um novo marco legal? Entendendo a Lei 14.026, sancionada em 15.07.2020

Em 15 de julho de 2020 foi sancionada a Lei 14.026, que atualiza o marco legal do saneamento no Brasil. A lei veio do Projeto de Lei (PL) 4.162/2019 e sua votação na Câmara e no Senado, até a aprovação pelo executivo deram o que falar durante esses tempos de pandemia.

Em suma, o novo marco altera alguns dispositivos legais:

Modifica a Lei 9.984/2000, alterando o nome da ANA – Agência Nacional de Águas para Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, atribuindo à autarquia novas competências, dentre elas executar papel de regulação sobre o setor de saneamento.

Altera a Lei 11.107/2005, que trata das normas de contratação. É uma das principais mudanças do marco e fala que municípios e estados não poderão mais ser contratados de forma direta para prestar os serviços de saneamento. A partir de agora, empresas públicas e privadas deverão concorrer em licitações abertas.

Estabelece algumas novas metas:

  • Meta de 99% da população com água potável em casa até dezembro de 2033
  • Meta de 90% da população com coleta e tratamento de esgoto até dezembro de 2033
  • Novos prazos para o encerramento de lixões no país, variando entre 31/12/2020 a 02/08/2024, a depender da situação do município.

As motivações do novo marco legal giram em torno das afirmações de que o saneamento básico no Brasil, como é hoje, não atende às necessidades da população. O assunto gerou e ainda está gerando muita discussão entre políticos, especialistas e a comunidade em geral, principalmente por algumas preocupações principais:

  • Com maior privatização, populações menos favorecidas ou mais isoladas terão garantia de seus serviços?
  • Os novos investimentos suprirão os déficits do setor?

Saneamento é um tema complexo e por isso merece a atenção da sociedade e todos os seus atores. Nos próximos posts, vamos explorar um pouco mais os argumentos de cada lado da moeda. Não deixe de acompanhar!

A defesa: Quanto mais investimentos, maior a universalização dos serviços.

O argumento principal de quem apoia o novo marco legal diz respeito à necessidade de maiores investimentos no setor para ampliar o atendimento. Segundo este pensamento, isso será possível a partir de alguns mecanismos de flexibilização da privatização.

Atualmente apenas 6% da rede de água e esgoto é gerida por empresas privadas. No cenário atual o acesso aos serviços ainda é bastante limitado e o nível de investimento no setor é muito baixo.

Segundo a nova Lei 14.026/2020, empresas públicas não poderão mais ser contratadas diretamente para executar os serviços de saneamento. Municípios ou estados terão que fazer uma concorrência aberta a empresas privadas, por meio de licitação, e as interessadas terão que se comprometer com a meta de universalização dos serviços.

 O relator da proposta no Senado, Tasso Jereissati, afirmou que o propósito do projeto é universalizar a prestação de serviços de saneamento no Brasil. Ou seja, garantir o acesso de todos os municípios a água tratada e coleta de esgoto. Para que isso ocorra até 2033, ele estima serem necessários entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões em investimentos.

O novo marco legal veio com uma forte base de apoio, além do relator da proposta- Tasso Jereissati, a Confederação Nacional da Indústria – CNI também comemorou sua aprovação, alegando que o novo marco poderá trazer modernização, aumento de investimentos e geração de empregos.

A Lei estabelece que áreas “menos atraentes” do ponto de vista econômico, serão concedidas juntamente daquelas “mais atraentes”, como forma de acelerar o investimento em regiões mais pobres, e garantir, dessa forma, que as populações mais vulneráveis também tenham acesso aos serviços de qualidade

 O aumento da participação do setor privado atrai investimentos ao setor, tende a melhorar a qualidade e eficiência dos serviços.

A oposição: vão privatizar a água no Brasil?

A aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento não ocorreu sem lançar algumas faíscas. Como já explicamos em posts anteriores, a proposta é universalizar os serviços de saneamento básico no país até dezembro de 2033. Parece muito tempo, mas vamos pensar que ainda temos muitas pessoas desabastecidas, o que incorre em grandes quantias de investimento.

A aposta do novo marco é que concorrência com empresas privadas vai obter os recursos necessários para atingir esta meta. No entanto, essa afirmação foi bastante criticada por profissionais de diversos segmentos, principalmente devido ao seguinte questionamento: será garantido o acesso aos serviços à população mais pobre ou situada em locais mais isolados?

Por um lado, os números mostram que empresas privadas investem 2,5 a mais do que empresas públicas em saneamento. Por outro, um dos vetos presidenciais à nova lei referiu-se aos chamados “blocos”. E como funciona? Para atingir municípios menores e com poucos recursos, fazia-se o uso do “subsídio cruzado”. Assim, as grandes cidades atendidas por uma mesma empresa ajudam a financiar a expansão do serviços nestas cidades mais afetadas. Na nova lei, a proposta alternativa ao subsídio cruzado seria possibilitar a formação de blocos, ou seja, um conjunto de prefeituras poderia contratar o serviço de forma coletiva.

No veto, deixa de existir a obrigatoriedade da União em apoiar com dinheiro e assistência técnica a organização e formação desses blocos, o que pode prejudicar a contratação de serviços para essas regiões.

Nesta série, estamos tentando mostrar os prós e contras de uma legislação tão debatida. No próximo post, falaremos de alguns exemplos no mundo em que se ampliou a privatização destes serviços. Não deixe de acompanhar.

Segundo a iniciativa Water Justice, algumas comunidades em diferentes locais do mundo estão repensando a privatização, como é o caso de Paris.

Embora já tenha sido esclarecido que: 1) Precisamos melhorar os serviços de saneamento e 2) O setor precisa de investimentos, alguns exemplos ao redor do mundo são importantes para nortear a privatização.

A iniciativa “Water Justice”, organização que busca alternativas à privatização, passou a mapear locais nos quais a remunicipalização destes serviços começou a ocorrer, através do Water Municipalization Tracker. Segundo eles, nos últimos 15 anos, mais de 235 cidades em 37 países optaram por esta alternativa.

O estudo “Our Public Water Future: The global experience with remunicipalisation” trouxe diversos exemplos, dentre os quais:

Atlanta, Estados Unidos: problemas na privatização, com redução de equipe, aumento de tarifas e piora na prestação de serviços;

Paris, França: a reestatização, em 2010, trouxe uma economia de 35 milhões de euros por ano e uma redução de 8% na tarifa;

Berlim, Alemanha: retomada do poder público por receio da população pelo aumento de tarifas com o setor privada.

Manaus, Brasil: com a privatização, o serviço esteve entre os piores índices de reclamação e com atendimento de menos de 20% do município.

É necessário entender que toda alternativa tem pontos positivos e negativos. Mas, estudar experiências passadas é essencial para melhorar a tomada de decisões para uma real implantação de um marco regulatório. No Brasil, muitas vezes fazemos boas leis, mas não as executamos como deveríamos. 

É fato. O saneamento no Brasil precisa melhorar.

Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), de 2010, os municípios brasileiros deveriam cumprir as metas de universalização dos serviços à população até 2033. Além do Plansab, o Brasil é signatário dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O país tem prazo até 2030 para oferecer água e esgoto a toda a população. Mas estes prazos estão longe de serem cumpridos. 

Conforme estudo divulgado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), menos de 100, das 5.570 cidades brasileiras, estão próximas da universalização dos serviços de saneamento. 

Um estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, baseia-se nos 100 maiores municípios do Brasil e aponta que 16,38% da população do país não tem acesso a abastecimento de água, o que equivale a 35 milhões de pessoas. Além disso, 46,85% não dispõem de cobertura da coleta de esgoto, o que representa mais de 100 milhões de pessoas. Ainda segundo o documento, o volume de esgoto no Brasil é um desafio, pois somente 46% é tratado. 

O Norte é a região onde menos pessoas têm acesso à coleta de esgotos, cerca de 10,45%; da população. Grandes municípios, como Ananindeua, Porto Velho e Belém, não tratam os esgotos. 

Quando falamos de resíduos sólidos, segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), de 2018, há cerca de 3 mil lixões em funcionamento no País, em cerca de 1.600 cidades. O novo marco do saneamento básico, postergou para 31 de dezembro de 2020 o prazo para o fim dos lixões, estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010, cujo prazo anterior era até 2014.

A pandemia do novo coronavírus escancarou ainda mais a precariedade do saneamento básico no Brasil. Medidas de higiene, como lavar as mãos estão entre as formas mais importantes de combate à doença.

Com tantos problemas apresentados, metas estabelecidas não cumpridas, grande parte da população desatendida, fica evidente a necessidade de maior agilidade na implantação de ações para a universalização dos serviços de saneamento do país. As dúvidas que surgem são: Há solução ágil de acordo com as necessidades atuais? Todas as pessoas terão acesso a este serviço essencial? E quem vai pagar esta conta?

Saneamento e saúde andam juntos!

Em um país onde ainda há milhões de pessoas que não possuem acesso a um serviço de saneamento adequado, não é mera coincidência encontrar dados alarmantes de saúde pública.

Infelizmente esse é o cenário presente no Brasil há muitos anos. Basta falar em dengue, febre amarela e tantas outras doenças para lembrar que estamos longe de colocar um fim nas epidemias causadas por saneamento deficiente. O aumento no número de internações e a superlotação de hospitais, principalmente em regiões pobres do país, também são reflexo de serviços ineficientes de coleta de lixo e tratamento de água e esgoto.

Se você acompanhou toda essa série sobre saneamento, já sabe que quase metade da população brasileira convive com essa questão. Essas pessoas compõem ainda as estatísticas da ONU que apontam 15 mil vítimas fatais todos os anos e 350 mil doentes devido à falta de saneamento.

Como se não fosse o bastante, 2020 trouxe ainda um desafio extra para a saúde pública no Brasil. Frente à pandemia do coronavírus, em que medidas de higiene são fundamentais para minimizar o contágio, o saneamento deficiente mais uma vez aparece como fator preocupante. Além disso, existem outras linhas de pesquisa sobre o coronavírus desenvolvidas pela USP em que é investigada a relação entre doentes e nível de saneamento, uma vez que já foi reconhecido o risco de contaminação fecal-oral. Com isso, o que podemos esperar de áreas onde o saneamento ainda é precário, como em alguns municípios das regiões norte e nordeste do Brasil?

É fato que saneamento está intimamente ligado à qualidade da saúde pública, assim como é incontestável a existência de outros fatores interferentes. A gestão de recursos não passa despercebida nisso, sendo que a OMS divulgou dados que revelam que para cada 1 dólar investido em água e saneamento, economiza-se 4 em saúde.

O ponto chave é que ainda há muito o que ser feito para prover saneamento completo à população brasileira. O novo marco legal tem exatamente essa necessidade como a sua motivação principal e traz à tona uma discussão muito válida e indispensável.

Chegamos ao fim desta série de posts. Espero que tenham gostado e que tenhamos contribuído com a sua compreensão sobre essa legislação nova e de suma importância nas nossas vidas.

Mudanças Climáticas foi o primeiro tema escolhido para a nova proposta de séries da Soluta.

A série foi uma colaboração entre todos os consultores associados Soluta. Conheça a nossa equipe.

Vale lembrar! A Soluta tem expertise em temas relacionados a saneamento, entre projetos de efluentes e gestão de resíduos sólidos. Não deixe de nos consultar para buscar soluções para o seu empreendimento.

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UM GIRO PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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UM GIRO PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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Em julho de 2020, a Soluta começou um projeto de série temáticas, com o objetivo de trazer conteúdo crítico e atual, sobre temas importantes em meio ambiente e sustentabilidade. Pra começar, desenvolvemos o tema Mudanças Climáticas, agora apresentado em alguns tópicos relevantes para a compreensão do todo. Esperamos que aproveite a sua leitura!

O clima sempre mudou, mas por que agora isso é um problema?

Nós sabemos que o clima muda. Tente se lembrar do que já viu sobre Roma Antiga, por exemplo. Provavelmente te vem à cabeça imagens de pessoas com roupas leves, como vemos em diversos quadros e esculturas. Agora, continue pensando na Itália. Você também deve se lembrar de quadros nos quais as pessoas usam roupas pesadas e o tempo parece bem frio. Essas mudanças são naturais, lentas e sempre aconteceram.

Entretanto, não é desse tipo de mudança climática que vamos falar e sim de uma muito rápida, intensa e que não é natural. Desde que começamos a usar combustíveis fósseis de forma excessiva, passamos a liberar gases na atmosfera que contribuem para o aumento da temperatura e, consequentemente, um desbalanço do sistema climático. Essa interferência humana no planeta é um dos maiores desafios atuais devido sua velocidade e intensidade. Por ser rápida, ela não permite que nos adaptemos. Por ser intensa, ela aumenta nossa vulnerabilidade. Na prática, isso significa que colocamos em risco a sociedade atual em que vivemos. Se um local que normalmente é frio passa a ser quente de forma rápida, o que acontece com as pessoas? Com os cultivos naquela região? Os animais nativos? 

97% dos cientistas concorda que a mudança climática é causada pelos seres humanos​

Já há consenso entre os cientistas que estudam o clima que as mudanças climáticas tem o dedo da nossa sociedade. Ou seja, elas estão diretamente relacionadas às chamadas atividades antrópicas. O IPCC, em seu quinto relatório (2013), afirmou: “ “É extremamente provável [95% de certeza] que a influência humana tenha sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século XX”.

Os números falam por si: desde que o início da Revolução Industrial, a concentração de CO2 atmosférico (dióxido de carbono – principal gás de efeito estufa) aumento de 280 para 410 parte por milhão. Ainda, durante as últimas cinco décadas, o aumento tem sido exponencial: 1,5 ppm ao ano na década de 90 e, respectivamente, 2 e 2.4 ppm ao ano nas entre 2000-2010 e 2010-2018.

Ainda assim, há quem acredite que a mudança climática faz parte da natureza. A este grupo, atribui-se o nome de “Céticos do Clima”, que costumam utilizar alguns argumentos como “o clima já mudou várias vezes”, “já houve anos mais quentes”, “O CO2 é bom pra vida na terra”.

A ciência do clima tem um nível considerável de imprecisão. No entanto, existe uma união jamais vista para tratar de um assunto de impacto global e necessidade urgente de ação. Pensando em responsabilidade socioambiental e, no Princípio da Precaução – regente de qualquer governo, entidade, empresa ou indivíduo associado aos temas de meio ambiente e sustentabilidade, é melhor acompanhar o consenso da ciência, não é mesmo?

Impactos das mudanças climáticas. Fonte: Planeta Sustentável.

E quem são os principais "donos" dos impactos?

O IPCC – Painel Intergovernamentall sobre Mudança do Clima divulga os resultados de emissões no mundo. O setor energético é, em escala global, o principal contribuinte para as mudanças climáticas, pela forma de geração da energia e por sua demanda ser sempre crescente (resultado do aumento da população, eletrificação e avanço industrial). A maior parte da energia do mundo é gerada através da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral). Esses combustíveis são resultado de milhares de anos de acumulação de matéria orgânica no solo, retendo um importante composto químico, o carbono. Para serem utilizados é necessário que passem por um processo de queima e é isso que vem liberando, ano após ano, gás carbônico, um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Outro importante contribuinte é a agropecuária, responsável por dois processos distintos. O primeiro é a emissão natural de metano pelos animais, então, quanto maior a quantidade de animais, maiores são as emissões. Segundo porque para alocar esses rebanhos, para alimentar tanto os animais como os seres humanos, precisamos de espaço e para isso transformamos áreas, como florestas, em pastos e regiões de cultivo. Essa mudança no uso do solo está diretamente relacionada com desmatamento e queimadas. O desmatamento faz com que haja uma diminuição de importantes absorvedores de carbono, as árvores. E as queimadas, além disso, liberam durante o processo gás carbônico. 

Fonte: IPCC, 2014.

Não existe Planeta B: é hora de mitigar e adaptar

Diante das mudanças climáticas podemos ter dois pensamento. O primeiro é: como evitamos? A forma de evitar as mudanças climáticas é o que chamamos de mitigação. Assim, nós trabalhamos ativamente na redução das emissões de gases que contribuem para esse fenômeno. Isso pode ocorrer através da substituição de fontes de energia, ou seja, diminuir ou zerar o uso de combustíveis fósseis, trocando para fontes como eólica e solar. Outro processo de mitigação é o combate às queimadas e desmatamento. 

A segunda pergunta é: o que podemos fazer se elas já estão acontecendo? Aqui entra outro processo, o de adaptação. Nos adaptar significa criar condições para lidarmos com os impactos das mudanças climáticas. Em termos práticos, aplicamos medidas como aumentar a resiliência de cidades aos crescentes fenômenos climáticos extremos, como enchentes e secas.

O Acordo de Paris, que é o tratado firmado em 2015, com o objetivo de conter o aumento médio da temperatura da atmosfera terrestre, para que fique abaixo de 2ºC ou, preferencialmente, 1,5ºC, pois é o limite de segurança apontado pela ciência, para que efeitos irreversíveis deixem de ocorrer. A janela para que isto ocorra é o ano de 2030. No acordo, medidas de adaptação e mitigação são solicitadas a cada um dos 196 países signatários e pontuadas através de suas Contribuições Nacionalmente Designadas (ou NDCs).

Algumas medidas podem ser mencionadas, como: investimentos em novas tecnologias e infraestrutura, construção de capacidade de resiliência em áreas vulneráveis, transição energética para fontes alternativas, alterações nos hábitos de consumo, apoio à economia circular, dentre outros.

Como sociedade, temos o direito e a obrigação de conhecer e cobrar ação de nossos governantes.

Pandemia e mudança do clima: tem alguma coisa a ver?

Falar de pandemia e mudanças climáticas é falar de dois tópicos. O primeiro é a atual pandemia de Sar-Cov-2. O segundo é o impacto das mudanças climáticas em pandemias futuras. 

1 – A mídia noticiou muito sobre como a poluição diminuiu durante as medidas de restrição de mobilidade. Algumas pessoas chegaram a pensar: será que conseguimos diminuir um pouco as mudanças climáticas por termos diminuído as emissões? E a resposta é, infelizmente, não. A diminuição das emissões que vimos durante esse período precisam ser mantidas daqui pra frente para que vejamos um impacto real no combates às mudanças climáticas. 

2 – É esperado que as próximas pandemias estejam relacionadas às mudanças climáticas. Isso pode acontecer de diversas formas. Uma delas é através da continuidade do desmatamento. Dentro de florestas há milhares de vírus e bactérias que vivem em equilíbrio, entretanto, os processos de destruição expõem os seres humanos a esses vírus tanto por nós ocuparmos os espaços deles quanto por uma intensificação da migração de espécies para outras regiões. Outro problema que pode dar origem a uma próxima pandemia é o derretimento das geleiras. Elas são grandes repositórios de vírus e bactérias que nunca tivemos contato e que não temos ideia de como podem interagir com os seres humanos. 

Com isso, é possível perceber que Mudanças Climáticas são muitos mais complexas do que parecem e que, eventualmente, podem ocasionar alterações em muitos âmbitos da sociedade, justificando todo o cuidado, atenção e ação na temática.

Confira no Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Refugiados do clima: um novo tipo de vulnerabilidade

Falamos em impactos causados pelas mudanças climáticas, certo? Pois então. Porque as mudanças climáticas podem ocasionar tais impactos, elas podem tornar certas localidades mais vulneráveis às suas consequências. O IPCC determina que a vulnerabilidade se dá pelo nível de reação de um determinado sistema para uma mudança específica, que varia em função de alguns fatores, parte relacionada ao impacto em si – dimensão/proporção da mudança – e parte relacionada à capacidade de resiliência do sistema afetado.

Assim, o pior dos casos, ou seja – mais vulnerável – consiste em locais mais susceptíveis ao impacto, tanto fisicamente (condição geográfica), quanto politicamente (condição de adaptação). 

Em 2020, vivenciamos o caso de Ioane Teitiota, natural de uma ilhota ao norte de Tawara, (República de Kiribati, Oceano Pacífico). Ioane vivia com sua família em Tawara, desde 2002, onde viviam da pesca e agricultura de subsistência. A ilha foi gradativamente atingida pelos efeitos das mudanças do clima, sendo afetada pelo aumento do nível do mar, o que resultou em avanços da água salgada sobre a terra, alterando as condições do solo e reduzindo a oferta de água potável. Isso tudo trouxe aumento das taxas de desemprego, disputas por terra e consequente aumento da violência.

Em uma situação insustentável, Ioane e sua família foram para a Nova Zelândia, em 2013, pedindo ao governo o abrigo como refugiados. Contudo, mais recentemente o governo neozelandês não acatou o pedido, solicitando a deportação para Kiribati. Em 2015, Ioane escreveu à ONU, denunciando a Nova Zelândia por tê-lo deportado, alegando que o país havia violado o seu direito à vida.

Enfim, em janeiro deste ano, o Comitê de Direitos Humanos da ONU acatou a sua solicitação e determinou que os países não podem deportar pessoas que pedem refúgio por sentir que sua vida está imediatamente ameaçada por eventos relacionados à crise do clima.

Ioane foi o primeiro caso internacional a conseguir seu direito como refugiado do clima. Mas, muitas outras pessoas são anualmente afetadas por questões ambientais. A ONU estima que este número pode ultrapassar 200 milhões de pessoas até 2050.

E por falar em passar a boiada… Cerca de 70% das emissões no Brasil está relacionado à agroindústria e ao desmatamento.

Como já dissemos, o maior contribuinte das mudanças climáticas globalmente é o setor energético. Entretanto, no Brasil a situação é diferente, já que quem mais contribui é a agropecuária. O principal motivo é o fato do rebanho de gado ser maior do que a população brasileira. Isso implica, diretamente, em espaço para pasto e para cultivo de alimento para esses animais. Ambos processos mudam o uso do solo. Isso pode ocorrer tanto pelo desmatamento de florestas quanto pelo desmatamento associado às queimadas. Além disso, o gigantesco rebanho, principalmente de bovinos, colabora diretamente emitindo gás metano. 

Nos últimos meses temos visto que esse processo se acelerou. A boiada tem avançado ainda em nossa rica floresta Amazônica, destruindo uma biodiversidade inestimável e fazendo com que o Brasil ande na contramão da redução de emissões durante a pandemia. No primeiro trimestre de 2020 a Amazônia apresentou nível recorde de desmatamento, totalizando uma área de 796 km² entre janeiro a março. Esse fato foi não usual, tendo em vista que este período costuma ser o que apresenta os níveis mais baixos, devido às chuvas fortes que marcam o inverno amazônico, dificultando a propagação de incêndios e a própria operação de desmate.

O valor apurado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe equivale a cerca de 80 mil campos de futebol e representam um aumento de 51% em relação aos 3 primeiros meses de 2019.

Vale lembrar que além de ocasionar emissões, a perda de cobertura vegetal também impacta em uma diversidade de serviços ecossistêmicos, tais como a regularização climática, hídrica, manutenção da qualidade do solo e águas subterrâneas, dentre outros diversos benefícios que se detém da existência da floresta em pé.

Fonte: SEEG, 2019.

Não é só no futebol que o Brasil pode brilhar. Temos muito a crescer com a transição energética e a economia de baixo carbono.

O Brasil sempre teve tudo pra ter papel de protagonista na transição para um mundo mais consciente no uso de seus recursos naturais. Em 1992, sediou um dos principais encontros na linha do tempo do desenvolvimento sustentável, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Também conhecida com ECO-92, a conferência sediada no Rio de Janeiro gerou importantes resultados, dentre eles:

  • A Agenda 21, uma espécie de acordo estabelecido entre 179 países, com o objetivo de elaborar estratégias em prol do desenvolvimento sustentável;
  • O fortalecimento da Convenção Quadro Sobre Mudanças Climáticas, que viria, alguns anos depois, a consolidar o primeiro acordo internacional sobre o clima, o Protocolo de Quioto.

O Brasil também sempre foi muito representativo nos mercados de carbono, estando entre os três principais fornecedores de redução de emissão de gases de efeito estufa ao longo dos anos.

No quesito energia, o Brasil apresenta bons resultados. 47% das nossas fontes energéticas são renováveis e, no setor elétrico, este número chega aos 80%. Nos últimos 10 anos, o país também esteve entre os principais investidores de energia eólica no mundo, além de ver o ganho de espaço de outras fontes, como a solar, tanto na geração distribuída, quanto centralizada. 

Nos biocombustíveis, o Brasil sempre teve forte representação com o etanol e biocombustíveis, que fazem parte da mistura obrigatória dos combustíveis convencionais (gasolina e óleo diesel).

Muitos desses pontos são ameaçados por decisões estratégicas, como o extremo investimento em fontes fósseis, como reservas de óleo e gás, ou os avanços no desmatamento. Mas, o Brasil já mostrou que pode assumir uma liderança ambiental no planeta. Basta força política e organização da sociedade, para lutar pela retomada deste protagonismo em um novo contexto econômico e social.

Como já disse Greta: "Nunca somos pequenos demais para fazer a diferença”

Nos últimos tempos, tem sido difícil não escorregar para os pensamentos apocalípticos. Estamos vivenciando o cenário de um mundo derretido, permeado de crises sociais, econômicas, políticas, além de lidar com uma pandemia extremamente preocupante.

Além disso, a mensagem é clara: não temos muito tempo. Este ano, entramos na mais importante “janela” de ação climática. O que fizermos daqui até 2030, segundo os principais cientistas do mundo, poderá definir o futuro do planeta. 

Movimentação de jovens pelo clima. Fonte: DW.

No entanto, não só de notícias ruins vive o mundo. Contamos uma geração consciente de seu papel em uma nova estratégia para a humanidade. Greta Thunberg, a jovem sueca de 17 anos, representa a motivação de muitos outros “jovens pelo clima”. 

O movimento Fridays for Future nasceu em 2015 e vem ganhando espaço, além de oferecer uma plataforma para dar voz às demandas referentes à questão climática, através de centenas de protestos organizados. Outros movimentos, como o Sunrise Movement, proporcionam ações no compromisso com o clima, além de promover a geração de empregos entre jovens. A UNICEF também conta com um plano de apoio à esta juventude, através de seus programas, denominado Youth Action

Embora engajados, os jovens não podem ser os únicos preocupados com o futuro. Muitos de nós ainda estarão por aqui por bastante tempo e, mesmo que não estivermos, temos a obrigação de pensar nas gerações futuras, algo que volta algumas décadas no próprio conceito da sustentabilidade. A atriz Jane Fonda é uma das pessoas que tomou consciência disso – persistente “protestante pelo clima e pelo planeta” mesmo após os seus 80 anos de idade.

Mudanças Climáticas foi o primeiro tema escolhido para a nova proposta de séries da Soluta.

A série foi uma colaboração entre:

  • Ana Luiza: meteorologista pela USP, mestre e doutoranda em planejamento de sistemas energéticos pela UNICAMP.
  • Elisa Guida: sócia diretora da Soluta, engenheira ambiental, especialista em mudanças climáticas e mestre em planejamento de sistemas energéticos pela UNICAMP.

Vale lembrar! A Soluta tem expertise em temas relacionados à mudanças climáticas, tais como: 

  • Gestão de emissões, incluindo inventários de emissões, planos de ação e monitoramento e estratégias específicas;
  • Cenários de riscos e oportunidades em mudanças climáticas;
  • Certificações, como projetos de créditos de carbono e certificações.

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